Chamada para envio de artigos para o Dossiê ''Imagens de “si”: história, literatura e memória''

2024-07-21

Esta proposta de dossiê temático se sustenta em um tema de abordagem interdisciplinar, o qual tem sido protagonista de diversas pesquisas historiográficas e demais campos das ciências humanas e sociais, aparecendo em artigos atuais de historiadores dos mais diversos enfoques, e sendo o pilar de desenvolvimento de periódicos científicos de proeminência, como, por exemplo, a Life Writing, publicada pela Taylor & Francis. De organizações como a International Autobiography Association (IABA), responsável por eventos que reúnem os especialistas do campo, a periódicos dedicados ao tema, a escrita autobiográfica evidencia-se como fonte das mais diversas pesquisas e enfoque de múltiplos campos teórico-metodológicos do conhecimento.

Há uma ampla disseminação dessas documentações em publicações dos últimos cinco anos, as quais contam com exemplares que refletem a complexidade e pluralidade do campo, como visto nos volumes, para citar alguns exemplos: Career Construction Theory and Life Writing: Narrative and Autobiographical Thinking across the Professions (2021) de Hywel Dix; Essays in Life Writing (2022), editado por Kylie Cardell; e The Selfless Ego: Configurations of Identity in Tibetan Life Writing (2023), de Lucia Galli e Franz Xaver Erhard.

Enquanto fonte historiográfica, é passível de ser analisada por diferentes metodologias, abrangendo pesquisas quantitativas (prosopografia, por exemplo) e qualitativas, além de servir como um veículo para pensar abordagens atuais em estudos de gênero e sexualidade, grupos étnico-raciais, interseccionalidade, subalternidades, diferentes classes sociais etc., a depender dos sujeitos que as produzem. Possibilita, ainda, o retorno e o reenquadramento de diálogos caros à historiografia, do ponto de vista teórico-metodológico, como a relação entre história e literatura; verdade e ficção; subjetividade e objetividade; coletividade e individualidade; memória; testemunho; ego-história etc. Neste sentido, as autobiografias escritas por historiadores têm recebido uma atenção maior nos últimos anos, com figuras como Jaume Aurell e Jeremy D. Popkin retomando a escrita da história enquanto narrativa – abordagem já explorado por Hayden White e Dominick LaCapra –, para propor que: essa recontextualização da escrita historiográfica em meio às ferramentas literárias e narrativas, permite que pensemos sobre as autobiografias de historiadores, que narram seus processos teórico-metodológicos, de forma a enquadrarmos estes textos em um viés de reflexão historiográfica; mas também pensarmos as relações e fronteiras entre história e ficção por meio destes textos.

Por fim, ao abarcar vários recortes temporais, com fontes produzidas em diferentes contextos, o tema deste dossiê temático incentiva a análise das múltiplas camadas que compõem a complexa narrativa da existência humana ao longo do tempo, partindo de uma análise do “eu” enquanto autoridade do discurso de si mesmo e testemunho de seus desdobramentos, e seguindo pelo entrelaçamento de recordações, memórias e experiências de vida. O que, em si, dialoga com o foco e escopo da revista ao propor um local de reflexão sobre uma parcela das fontes que usamos na historiografia e sobre as formas de registro e inteligibilidade do passado, empregadas pelos sujeitos que estudamos.

Assim, o presente dossiê temático têm por objetivo abranger produções que dialogam com os seguintes eixos temáticos (apesar de não limitados a):

 

  1. A escrita e/ou representação autobiográfica como fonte em suas variadas formas de produção e publicização;
  2. A influência de locais e tempos históricos na produção das fontes de cunho autobiográfico e/ou de narrativas de “si”;
  3. As diferentes formas e composições que configuram a autobiografia ao longo do tempo, espaço e abordagens variadas (culturais, interseccionais, de gênero, religioso, etc.);
  4. Metodologias e escopos teóricos possíveis ao se pensar as “imagens de si” ao longo da história;
  5. A possibilidade de diálogos interdisciplinares ao se ter fontes de cunho autobiográfico como centro de investigações.