Seções descontinuadas e dossiês publicados
Seções descontinuadas
* Resenha de balanço historiográfico com ênfase em revisão de literatura (2020)
* Resenhas (2008-2018)
* Traduções e documento historiográfico (2009-2018)
* Entrevistas (2009-2017)
* Em pauta (2017-2018)
Dossiês publicados
* Dossiê "Da Monarquia à República: questões sobre a escrita da história" (2009)
Não houve chamada pública
* Dossiê "A historiografia em época de crise: 1750-1850" (2010)
Não houve chamada pública
* Dossiê "A história da historiografia e os estudos clássicos" (2010)
Não houve chamada pública
* Dossiê "Historiografia alemã: abordagens e desenvolvimentos" (2011)
Não houve chamada pública
* Dossiê “Historiografia na América Espanhola” (2011)
Não houve chamada pública
Chamada: A proposta do dossiê é reunir artigos inéditos acerca do tema das relações entre estes dois gêneros de escrita, história e biografia, na perspectiva da teoria da história e da história da historiografia, que contribuam para o aprofundamento das reflexões sobre os usos da biografia pelos historiadores, as tensões, os distanciamentos, os desafios, limites e possibilidades de pesquisa, até as implicações teórico-epistemológicas no campo historiográfico.
* Dossiê “Diálogos historiográficos: Brasil e Portugal” (2012)
Chamada: Neste dossiê faz-se um convite à reflexão sobre problemas, debates e formas de abordagem que de um modo ou de outro marcaram as historiografias portuguesa e brasileira desde meados do século XIX.
Os sócios fundadores do IHGB viveram o duplo dilema de construir uma historiografia de cariz “nacional”, tendo por base um legado que se queria antes de tudo “português” e um conjunto de fontes relativamente escassas, desorganizadas ou muito distantes. Vários esforços se empreenderam para ultrapassar esses obstáculos. E as sucessivas missões aos velhos acervos de Portugal, inauguradas por Francisco Adolpho de Varnhagen, foram certamente de enorme importância. Ainda assim, oitenta anos mais tarde Capistrano de Abreu confessava por carta a João Lúcio de Azevedo que, tanto pela dificuldade de acesso aos documentos, como pela falta de uma genuína tradição arquivística, a história do Brasil parecia ser “uma casa edificada na areia”.
O lançamento do Projeto Resgate “Barão do Rio Branco”, na segunda metade da década de 1980, coincidiu com uma série de novos espaços de interação entre ambos os países. Já neste século, passaram a ser rotineiros colóquios, seminários, congressos e pós-graduações com alunos e professores brasileiros e portugueses. Sucede, no entanto, com alguma frequência, que a suposta partilha de um mesmo passado e de tudo o que implica uma língua em comum não bastam para evitar mal-entendidos. Porque, de facto, existem parâmetros, semânticas e pontos de vista bastante diversos.
Propõe-se aqui reunir um leque de artigos que estimule abordagens comparativas e permita contextualizar as mais importantes polêmicas que acompanharam o desenvolvimento da historiografia luso-brasileira dos dois últimos séculos. Quais os seus territórios de confluência? Quais os motivos de maior distanciamento? Que obras tiveram um impacto mais duradouro na produção historiográfica de língua portuguesa? Como avaliar o peso relativo da diplomacia e de outras instâncias governativas ou oficiais na construção de um horizonte comum? De que maneira condicionamentos políticos (censura, prisões, degredos, exílios) e acadêmicos (grupos de estudo, “escolas”, espaços de influência, equipes de “repatriamento” de documentação) marcaram a produção historiográfica de ambos os países?
Procurando caracterizar a obra de Joaquim Barradas de Carvalho, Fernand Braudel cogitou com alguma ironia que se não consegue compreender Portugal senão a partir do Brasil. Neste começo de terceiro milénio, até que ponto se poderá sugerir formulação semelhante para explicar os caminhos de boa parte da nova historiografia brasileira?
* Dossiê “Os cursos de história: lugares, práticas e produções" (2013)
Chamada: Nos últimos 40 anos, o Brasil viveu a expansão dos programas de pós-graduação em História, fundamentais para o desenvolvimento da pesquisa histórica no país. Muito antes disso, diversos empreendimentos colaboraram na institucionalização dos estudos históricos, desde a criação do IHGB em 1838, passando pela breve experiência de uma faculdade de história vinculada ao mesmo instituto, até a criação dos primeiros cursos superiores nos anos 1930. A proposta desse dossiê é contribuir para a compreensão do que Michel de Certeau (1975) definiu como o lugar social de produção da historiografia. Lugar a partir do qual a história é escrita, reescrita ou não escrita, visto que esse mesmo lugar possibilita e interdita o que é possível pensar, investigar, escrever e divulgar, contribuindo para a fabricação do conhecimento e a definição das regras que o presidem. Este dossiê acolherá estudos sobre lugares institucionais, projetos e experiências de ensino e pesquisa, trajetórias individuais e produções relevantes para pensar a história dos cursos de História e das pós-graduações no Brasil e em outros países.
* Dossiê "Teoria da história da historiografia" (2013)
Chamada: A História da Historiografia se encontra em um momento privilegiado: o aumento quantitativo da produção científica sobre o tema é acompanhado de um salto qualitativo indiscutível.
Todavia, é necessário, sobretudo para que se mantenha em bom nível a reflexão a partir de pesquisas científicas, pensar a escrita da história da historiografia: serviriam de critérios os autores, as obras, as escolas nacionais (como quer uma vertente mais tradicional), ou as formas, os métodos, as formações discursivas, as ideologias?
Não nos faltam, inclusive, grandes autores que já refletiram sobre o assunto: Benedetto Croce, Eduard Fueter, Friedrich Meinecke, entre tantos outros. Atualmente, como dispensar as teorias de Hayden White, Jörn Rüsen e Reinhart Koselleck?
O propósito do dossiê consiste, portanto, em apresentar um leque de possibilidades, conflitos de matrizes e de tradições, de modo que possamos nos apropriar de maneira criativa das tradições e reflexões existentes, de modo a refinar tanto a pesquisa como o ensino de história da historiografia.
* Dossiê "A história em questão: diálogos com a obra de Manoel Luiz Salgado Guimarães" (2013)
Chamada: Ao longo de sua rica trajetória como professor e pesquisador, Manoel Luiz Lima Salgado Guimarães (1952-2010) exerceu um papel de destaque no processo de renovação e fortalecimento no Brasil das áreas de teoria da história e história da historiografia, alargando e enriquecendo o rol de questões que permitem problematizar as relações que cercam o ofício do historioador em sua historicidade. A proposta deste dossiê é promover uma reflexão sobre essas contribuições e explorar os caminhos abertos por sua obra. Mais do que se ocupar com textos específicos de sua autoria, o objetivo do dossiê é acolher estudos que permitam, através do diálogo com e a partir da obra de Salgado Guimarães, tematizar a contribuição do seu legado, bem como seus desenvolvimentos possíveis nas diferentes temáticas por ele trabalhadas, como história da historiografia brasileira, teoria da história, memória e história, patrimnônio, imagem etc. Esse diálogo, elaborado em função de temas, visa a abarcar a multiplicidade de sua produção, bem como a permitir uma maior liberdade na abordagem dos textos, possibilitando que a obra de Salgado Guimarães possa ser tratada transversalmente a partir de diferentes pesquisas e abordagens.
* Dossiê “Historicidade e literatura” (2014)
Este dossiê tem por objetivo pensar a historicidade a partir da literatura. Tema hoje fundamental para a teoria da história, a historicidade vem sendo objeto de inúmeras reflexões e pesquisas voltadas à escrita da história, aos conceitos, às instituições políticas, etc. No entanto, os historiadores pouco tem se interrogado a respeito dos modos como a literatura permite pensar a historicidade da experiência humana. Não se trata de uma abordagem documentalista da literatura, já sedimentada na história social, mas de uma abordagem que privilegie o seu caráter cognitivo, na medida em que ela – a literatura –, através dos procedimentos textuais que lhe são próprios, permite produzir um saber particular a respeito da experiência humana em sua(s) temporalidade(s). Assim, talvez seja possível desvelar diferentes aspectos dessa experiência, como as dimensões éticas da ação e do conhecimento históricos, os constrangimentos e as (im)possibilidades da representação do passado, a problematização dos critérios que presidem as fronteiras discursivas da história disciplinar, entre tantos outros temas caros à reflexão atual da teoria da história. Enfim, a proposta do dossiê é direcionar ao objeto literário, em sua variedade histórica, uma agenda de questões que vem pautando as reflexões historiográficas, não apenas para encontrar nesse objeto diferentes ilustrações ou exemplos daquela agenda, mas também visando, através desse confronto, enriquecê-la e complexificá-la. Para esse dossiê, serão bem-vindos artigos que confrontem a reflexão teórica e a história da historiografia com as seguintes áreas: filosofia da história e epistemologia da história, teoria literária, história da literatura, histórias locais da relação entre história e literatura, romance histórico, poesia e história e poéticas da história.
* Caderno Especial "Teoria e história da historiografia" (2015)
Não houve chamada pública
Há muito tempo que os historiadores da historiografia nos preocupamos com os processos de produção do conhecimento histórico, as obras e os historiadores cujas contribuições se consideraram mais relevantes, com as instituições, grupos e publicações que a cada momento foram reconhecidos como referentes de mudanças significativas a respeito do problema que se propuseram, da perspectiva que deram a temas novos ou antigos, dos métodos que utilizaram para abordá-los ou das mudanças interpretativas que promoveram. Temos nos inclinado a destacar ao mesmo tempo a novidade com a rigorosidade dos cultores de um ofício que tem se renovado, sem deixar de reconhecer os seus laços de família com antecedentes distantes no tempo.
Sem dúvida, estes assuntos permanecerão na nossa agenda. Porém, o horizonte de questões que orientam a reflexão atual em nosso campo de estudos tem se ampliado notavelmente ao incluir os leitores, os contextos de leitura, seus gostos e interesses, os meios através dos quais amplos públicos têm acesso ao conhecimento histórico e às fontes desse conhecimento. Novas perguntas surgem a partir dessa abertura: Qual a relação que tem existido, e existe, entre o conhecimento do passado e as diversas formas, espaços, meios e linguagens através dos quais ele circula na sociedade? De que maneira se difunde o conhecimento histórico em diferentes espaços, mas também em diferentes contextos sociais, culturais e temporais? De que forma se constrói a imagem –verdadeira ou falsa– que amplos setores sociais têm do seu passado e quais as consequências para o futuro de que alguma delas venha se impor?
O objetivo deste dossiê é o de promover a apresentação de estudos atentos à análise da relação entre os processos de produção e a difusão do conhecimento histórico, sua circulação entre diversos grupos sociais e para além das fronteiras nacionais; os modos de apropriação e recepção de imagens, representações e interpretações em diversos contextos; as características dos espaços nos quais estes saberes circulam e daqueles que promovem a sua difusão; os meios, mecanismos e linguagens através dos quais se realizam essas operações; os velhos e os novos sentidos que portam; as lutas das quais participam e as expectativas que promovem.
"O que fabrica o historiador quando ‘faz história’?”. Há quarenta anos, a pergunta lançada por Michel de Certeau serviu de mote para a análise dos fundamentos da “operação historiográfica”, a qual tornou-se um referencial para os estudos de história da historiografia, ainda hoje evocada para as mais variadas abordagens. Esta chamada para o próximo dossiê de História da Historiografia a retoma agora com o propósito de estimular artigos que tomem o sujeito historiador como tema central, discutindo como a operação historiográfica pode ser percebida, apreendida, compreendida quando projetada sobre um/a historiador/a específico/a, sua trajetória, sua produção, os debates em que se envolveu. Longe de fazer a defesa do indivíduo “genial”, que escreve a sua obra de modo desprendido, o que se pretende é pôr em discussão de que maneira(s) o lugar social, as práticas e regras do campo e a dimensão própria à escrita atuam efetivamente sobre o trabalho historiográfico a partir da figura daqueles que realizam tal trabalho. Ou, em outras palavras, retomando a célebre questão de Certeau, o que se propõe aos autores e autoras é um ligeiro, mas significativo, deslocamento em sua formulação: quem é o/a historiador/a quando “faz história”?
* Dossiê "Teoria da História e História da Historiografia na América Latina e no Caribe" (2018)
* Dossiê "O que faz da história algo pessoal?" (2019)
Chamada: O objetivo de nossa proposta é compreender como a ‘historicidade´ e diversas compreensões do passado interferem na escrita da história. Seriam particularmente interessantes, por exemplo: a relação entre a vida e a obra do historiador, na qual a marca autoral é clara e insubstituível; a formulação de uma visão de história na qual ficam borradas as fronteiras entre os ambientes pessoal e político; a estreita conexão entre a formação/construção da identidade pessoal e a coletiva; a relevância da escrita da história para a orientação pessoal e a identidade em um tempo de crise; a identificação entre a historiador/o historiador e o seu objeto.
* Dossiê: História da Historiografia Medieval: Novas Abordagens (2020)
Chamada: A “memória disciplinar da historiografia” (GUIMARÃES, 2005) pareceu por vezes encontrar desafios em acessar correlatos da escrita da história no período medieval (V-XV). Preocupada com a formação da historiografia moderna, seus olhares não raramente deslizaram dos antigos aos modernos, deixando de lembrar que a querela, ela mesma, nasce de um toposmedieval (MATEUS, 2013). Consequentemente, a “procissão historiográfica” (PIRES, 2014) tem facilidade em esquecer dos historiadores medievais, com o desfile de autoridades saltando ora entre Tácito e Guicciardini (MOMIGLIANO, 1963; 1983; 2004), ora entre Flávio Josefo e Abraham Zacuto (YERUSHALMI, 1992), ainda que o pensamento decolonial tenha, desde cedo, sugerido honrosas menções a Ibn Khaldūn (KI-ZERBO, 2010, p. 3).
Por outro lado, a redução da “história da Idade Média” à “história da Cristandade Ocidental” impediu a subsunção dos gêneros históricos do período a uma escala global, multi religiosa e integrada na produção e comércio dos livros, conexões expressas no trabalho pergaminheiro, nas escolas de tradução e nas compilações de topoitransculturais (DIAZ, 2001).
Em que medida a oposição construída por nossa memória disciplinar, a qual promove o salto entre antigos e modernos, reflete uma radical interrupção de tradições supostamente retomadas no Renascimento? Esse salto de fé em nome da razão não parece igualmente esquecer de questionar a historicidade enquanto privilégio de uma ciência histórica (moderna e ocidental)? (GADAMER, 2003, p. 17)
O presente dossiê visa fixar um diálogo latente entre os estudos medievais e a história da historiografia. Convidamos às reflexões relacionadas à multiplicidade dos gêneros históricos e formas de escrita da história na Idade Média Afro-Eurasiana, às possibilidades de consciências históricas medievais não redutíveis à “tradição de raciocínio” (SETH, 2013) ocidental e posterior, aos conceitos eruditos de história e suas possibilidades de pesquisa, às formas de disciplina, aos lugares de produção, circulação, leitura e performance oral da escrita da história na Idade Média, sem esquecer de suas relações e dissonâncias com as imagens, com a música, com o poder espiritual e com os projetos de poder temporais.
Bibliografia:
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YERUSHALMI, Yosef Hayim. Zakhor: história judaica e memória judaica. Rio de Janeiro. Imago. 1992
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* Dossiê: História como (In)disciplina (2021)
Chamada: Tornou-se, nos últimos anos, a historiografia mais “disciplinar” uma vez que seus agentes tenham voltado suas práticas à adequação do regramento compartilhado entre os pares? Ou ela tornou-se mais “indisciplinar” (ou inter, trans), na medida em que multiplicou seus diálogos com áreas vizinhas e passou a questionar os seus protocolos internos de validação? Com esta indagação em vista, gostaríamos de convidar pesquisadores a submeterem seus trabalhos para o dossiê “História como (In)disciplina”, a ser publicado pela Revista História da Historiografia. Entende-se os processos de estabelecimento de regras disciplinares e os de sua deliberada negação como dois lados de uma mesma moeda. Pretende-se, portanto, reunir textos que tratem tanto do processo de “disciplinarização” – hodierno ou pretérito – quanto dos processos contrários ou reversos a ela. Alguns eixos são sugeridos:
- Controvérsias a respeito da definição legítima da disciplina de História.
- Modelos de proeza intelectual e controvérsias a respeito da definição legítima das práticas da disciplina.
- Estudos de caso com foco em conversões disciplinares (seja de juristas, jornalistas, cientistas sociais que se tornam historiadores, como de historiadores que se convertem a outras áreas).
- Estudos de caso com foco em conversões políticas e profissionais (seja de militantes que se tornam scholars, ou de scholars que se tornem militantes, midiáticos, etc).
- Análises de colaboração entre disciplinas (inserção dos historiadores em centros multidisciplinares de pesquisa social, arranjos interdisciplinares, multidisciplinares, transdisciplinares).
- Análises de rivalidades entre disciplinas (conflitos em torno de teses e perspectivas, disputas por temas).
As transformações globais sofridas pelos sistemas de ensino nas últimas décadas alteraram a dinâmica da produção intelectual em diversas disciplinas acadêmicas. Por um lado, verificou-se o crescimento numérico das instituições de ensino superior e de sua clientela, instado por políticas de acesso de democratização e por insumos materiais de diversas ordens (programas de permanência estudantil, bolsas e financiamentos variados aos pesquisadores); por outro, e sem precedentes, os influxos materiais foram acompanhados de um crescente regramento e da intensificação das avaliações das performances institucionais e profissionais. O processo deu origem a numerosos conflitos que giram em torno de concepções rivais a respeito do que seja o modelo ideal de proeza e produção intelectual.
No que diz respeito à História, não foi diferente. Entretanto, as particularidades que a caracterizam como área implicam modos distintos de gerenciar estes processos de expansão, regramento e avaliação da atividade. Sobejamente conhecidas, estas peculiaridades podem ser enumeradas: área que pende ao ensino (destino da maioria dos formados); mais antiga que outras disciplinas modernas (como ciência política, por exemplo); com uma cultura disciplinar induzindo práticas (como escrita solitária, em oposição à tendência de escrever coletivamente); maior abertura aos aportes teóricos e conceituais de outros campos (traduzindo-se, em anos recentes, nos diversos “giros” pelos quais passou), dentre outras.
Não foi casual que, precisamente nestes anos, uma área reflexiva por excelência tenha crescido com tamanha rapidez e que as pesquisas neste segmento tenham passado a atentar para dimensões da prática historiográfica até então negligenciadas. No caso brasileiro, ao longo da última década, os frutos de esforços convergentes tornaram-se tangíveis: desde 2006, a realização do “Seminário Nacional de História da Historiografia”, na Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP); desde 2008, a constituição de um periódico especializado no assunto (História da historiografia); em 2009, o estabelecimento da Sociedade Brasileira de Teoria e História da Historiografia (SBTHH). Antes desta cristalização em um conjunto de referências e lugares, era comum que os estudos sobre a história da prática historiográfica (ou da história da historiografia) fossem desqualificados deliberadamente entre os pares. Não era raro se ouvir que os historiadores da historiografia eram indivíduos que não tinham passado da fase do balanço bibliográfico à da elaboração da pesquisa propriamente dita. O enviesado da observação tinha pelo menos uma razão objetiva em que se sustentava. Para gerações anteriores, com a exceção de José Honório Rodrigues, as discussões historiográficas, teóricas e metodológicas eram o culminar, quando admitido, de uma carreira dedicada à prática do métier, sendo assim uma espécie de exame de consciência do historiador.
Concomitantemente à sedimentação assinalada, processaram-se a multiplicação de temáticas e dos intercâmbios com outras disciplinas. No que tange aos temas, o século XIX, as primeiras instituições de saber histórico e as obras dos primeiros historiadores brasileiros foram objetos inicialmente privilegiados. Em que se pese a permanência do interesse pelos “ensaios de interpretação do Brasil”, é notável que a expansão universitária e os insumos recebidos pelo sistema de pós-graduação ensejaram a diversificação temática e a atenção às dimensões do ofício, anteriormente ignoradas. Se os nexos entre construção do Estado nacional e historiografia pareciam dominar os estudos acima citados, é evidente que práticas editoriais, sociabilidades e conflitos acadêmicos têm ganhado a cena. No que se refere ao diálogo com outras áreas, a Filosofia e os Estudos Literários são as parcerias disciplinares mais prováveis. As preferências de parcerias disciplinares se devem a diversos motivos, atrelados à tradição do métier e à experiência da fração de geração que se empenhou para a sedimentação da área. Além disso, a história da historiografia se define como um espaço aberto ao exercício da interdisciplinaridade – aspecto saliente se observado o volume de estudos a respeito dos nexos entre a historiografia e teorias oriundas das ciências sociais.
Não obstante, a ênfase até aqui conferida ao caso brasileiro, é importante termos em conta que os vetores internacionais dessas mutações – ou perturbações – no campo disciplinar da história estão também estabelecidos. Publicações tais comoHistory and Theory, Rethinking History, Historein, Journal of Philosophy of History e a recém-criada International Network for Theory of History, indicam que a “idade teórica” da história veio para ficar com os impactos correlatos sobre suas formas disciplinares.
* Dossiê: Lembrança: entre agência e atualização do passado (2022)
Nos primeiros anos do século XXI, a opinião pública renovou as disputas provenientes da filosofia da história e dos chamados estudos da memória. No plano político, recentemente, uma nova versão do neoliberalismo -especialmente na América Latina- reformulou suas formas de lidar com os sentidos históricos. Parece haver um convite à deshistoricização do presente, que é entendida prima facie como um dispositivo de desagenciamente. Mas não daria isso lugar a uma formulação hipócrita dos usos do passado, com suas correspondentes histórias, mitos políticos e façanhas de origem, ou, ao contrário, abriria uma perspectiva em que as reivindicações da Verdade já são insustentáveis, por esconder um pano de fundo mítico? Novamente, é a teoria da história que informa essas questões. A tese de que a história não pode ser entendida como um continuum ou como uma história magistra vitae não perdeu sua validade e, no entanto, isso não contradiz a necessidade irrecorrível dos diferentes sentidos históricos para a ação coletiva. A agência aqui é entendida como a capacidade de ação, associada a modos específicos de exercício da subjetividade, cujas características dependem da forma como o sentido histórico é concebido, ou seja, que tipo de matriz se estabelece para vincular -ou não- passado, presente e futuro.
Nesse contexto e na busca de uma atualização histórica, a estruturação das dimensões temporais se alia ao social, gerando conflitos teórico-políticos. A intervenção de usos do passado, que contêm experiências e memórias coletivas, faz do nosso passado um campo de batalha. Assim, os modos de construção do conhecimento histórico situam-se no centro da cena, despertando disputas sobre o sentido do passado e as formas de acessá-lo. Por sua vez, as diversas interações entre história e memória e memória e esquecimento estruturam tanto nosso espaço de experiências quanto nosso horizonte de expectativas, forjando diferentes perspectivas de futuro e modos de narrar o passado. Este dossiê é um apelo à reflexão sobre os conceitos clássicos e revertidos da filosofia da história, como memória, experiência, aceleração, prognóstico e estratos temporais, entre outros, para iluminar o poder contemporâneo, a política e a agência que a história apresenta.