Os usos abusivos da historiografia profissional pelos negacionismos históricos no Brasil em tempos de crise democrática

o caso do “Guia politicamente incorreto da história do Brasil”

Autores/as

  • Rodrigo Perez Oliveira Universidade Federal da Bahia.

DOI:

https://doi.org/10.15848/hh.v16i41.2020

Palabras clave:

Negacionismo histórico, usos abusivos da historiografia, crise democrática brasileira

Resumen

O objetivo deste artigo é examinar as especificidades do negacionismo histórico praticado pelo Guia politicamente
incorreto da história do Brasil, tanto em seu formato impresso, publicado em 2009, como na versão adaptada para
a TV, que foi ao ar em 2017. A hipótese sugere que esse tipo de negação abusa de verdades possíveis delineadas
pela historiografia profissional, sobretudo do topos das agências subalternas. Busco inspiração teórica nos conceitos de “história abusiva” e “memória manipulada”, propostos, respectivamente, por Antoon De Baets e Paul Ricoeur. O texto está dividido em três partes: primeiro, examino o uso abusivo do topos da agência escrava, desenvolvido pela “nova história da escravidão” nos anos 1980. Em seguida, faço o mesmo para o topos da agência indígena, desenvolvido pela “nova história indígena” nos anos 1990. Demonstro como uso abusivo é motivado por finalidades políticas eticamente repulsivas que pretendem negar a necessidade de políticas públicas reparatórias destinadas a grupos sociais historicamente oprimidos. Na conclusão, proponho uma agenda teórico/política de enfrentamento a essa modalidade de negacionismo histórico.

Descargas

Los datos de descargas todavía no están disponibles.

Biografía del autor/a

Rodrigo Perez Oliveira, Universidade Federal da Bahia.

Rodrigo Perez Oliveira é carioca, doutor em história social pela UFRJ e professor adjunto de teoria da história na Universidade Federal da Bahia, atuando na graduação e na pós-graduação. Rodrigo Perez é autor do livro "As armas e as letras: a Guerra do Paraguai na memória oficial do Exército Brasileiro (1881-1901)”, publicado em 2013 pela editora Multifoco, e organizador do livro "Conversas sobre o Brasil: ensaios de crítica histórica", publicado em 2017 pela editora Autografia. Os interesses de pesquisa do autor estão concentrados nas relações entre a epistemologia histórica e a história política, sendo sua especialidade a história da historiografia e do pensamento político brasileiros, assuntos que já abordou em uma dezena de artigos publicados em diversos periódicos especializados. Atualmente, Rodrigo Perez vem desenvolvendo pesquisas sobre a historiografia brasileira produzida nos anos da redemocratização (1975-1990) e sobre a experiência de crise institucional que desestabiliza a cena política brasileira desde 2013.

Citas

ADOLFO, Roberto Manoel Andreoni. As transformações na historiografia da escravidão entre os anos de 1970 e 1980: uma reflexão teórica sobre possibilidades de abordagem do tema. Revista de Teoria da História, Goiânia, v. 11, n. 1, p. 110–125, 2014. Disponível em: https://revistas.ufg.br/teoria/article/view/30165. Acesso em 15 de março de 2022.

ALMEIDA, Maria Regina Celestina. A atuação dos indígenas no Brasil: revisões historiográficas. Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 37, n. 75, 2017, pp. 17-38. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbh/a/b7Z47VbMMmvPQwWhbHfdkpr/?lang=pt&format=pdf. Acesso em 10 de março de 2022.

ALMEIDA, Maria Regina Celestina. Metamorfoses indígenas: identidade e cultura nas aldeias coloniais do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional, 2003.

ANDERSON, Perry. Teoria, política e história: um debate com E. P. Thompson. Campinas: Ed. UNICAMP, 2018.

ARAUJO, Valdei; RANGEL, Marcelo de Mello. Teoria e história da historiografia: do giro linguístico ao giro ético-político. História da Historiografia: International Journal of Theory and History of Historiography, Ouro Preto, v. 8, n. 17, 2015. DOI: 10.15848/hh.v0i17.917. Disponível em: https://www.historiadahistoriografia.com.br/revista/article/view/917. Acesso em 15 de março de 2022.

ARENDT, Hannah. Verdade e política. Lisboa: Relógio D’Água Editores, 1995.

AVELAR, Alexandre de Sá; BERVERNAGE, Berber; VALIM, Patrícia. Negacionismo: história, historiografia e perspectivas de pesquisa. Revista Brasileira de História, vol. 41, n. 27, pp. 13-36. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbh/a/mKqxgYCgFLmDBCNWmVKJ4gd/?format=pdf&lang=pt. Acesso em 14 de março de 2022.

AVELAR, Alexandre; VALIM, Patrícia. Negacionismo histórico: entre a governabilidade e a violação dos direitos fundamentais. Revista Cult [RP4] , setembro de 2020. Disponível em: https://revistacult.uol.com.br/home/negacionismo-historico/. Acesso em 30 set 2021.

BORGES, Viviane Trindade; OGASSAWARA, Juliana Sayuri. O historiador e a mídia: diálogos e disputas na arena da história pública. Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 39, n. 80, 2019, pp. 37-59. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbh/a/FKyMw5pFhRdL5jbRCYB6fnD/?format=pdf&lang=pt. Acesso em 15 de março de 2022.

CARDOSO, Fernando Henrique. Capitalismo e Escravidão no Brasil Meridional: o negro na sociedade escravocrata do Rio Grande do Sul. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997.

CARNEIRO DA CUNHA, M. História dos índios no Brasil. São Paulo, Companhia das Letras, 1998 [1992].

DE BAETS, Antoon. Uma teoria do abuso da História. Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 33, n. 65, p. 17-60, 2013. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbh/a/3zbNZYB56nWgH5FJ5G3HC5m/?format=pdf&lang=pt. Acesso em 10 de março de 2022.

DEAN, Warren. A ferro e fogo: a história e a devastação da Mata Atlântica brasileira. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.DECCA, Edgar de. E. P. Thompson: um personagem dissidente e libertário. Projeto História: Revista do Programa de Estudos PósGraduados em História e do Departamento de História da PUC-SP, São Paulo, v. 13, n. 12, pp. 30-23, out/1995. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/index.php/revph/article/view/11306. Acesso em 12 de março de2022.

DI CARLO, Josnei; KAMRADT, João. Bolsonaro e a cultura do politicamente incorreto na história brasileira. Revista Teoria e Cultura, UFJF, Juiz de Fora, v. 13, n. 2, pp. 55-72. dez de[5] 2018. Disponível em https://periodicos.ufjf.br/index.php/TeoriaeCultura/article/view/12431/0. Acesso em 10 de março de 2022.

ESCOSTEGUY FILHO, J. C. Reflexões sobre agência e estrutura na historiografia da escravidão. Revista Tessituras, Recife, v. 6, p. 102-117, 2015. Disponível em https://periodicos.ufpe.br/revistas/index.php/revistaclio/article/view/237678. Acesso em 10 de março de 2022.

FERNANDES, Florestan. A organização social dos Tupinambá [1949]. São Paulo: Hucitec, 1989.

HISTORY CHANNEL. Guia Politicamente incorreto da história do Brasil. Série Televisiva. 2017. Disponível em: https://www.youtube.com/playlist?list=PLJaLHR2LwSrzLyBVLkrQuvApme1racTSD/ Acesso em 12 de março de 2022. https://hhmagazine.com.br/o-incorreto-no-Guia-politicamente-incorreto-da-historia-do-brasil/ Acesso em: 22 de agosto de 2022.

LA CAPRA, Dominick. Rethinking intelectual history and reading texts. In: LA CAPRA, D.; KAPLAN, Steven (org). Modern European intellectual history: reappraisals & New perspectives. Ithaca: Cornell University Press, 2003[6] , pp. 56-78.

LARA, Silvia H. Conectando Historiografias: a escravidão africana e o antigo regime na América portuguesa. In: BICALHO, Maria Fernanda; FERLINI, Vera Lúcia A. (org.). Modos de Governar: ideias e práticas políticas no Império Português. (Séculos XVI-XIX). São Paulo: Alameda, 2005, pp. 56-87.

LEVY, Peter. The New Left and Labor in the 1960s. Illinois: University of Illinois Press, 1992.

MACHADO, Maria Helena. Em torno da autonomia escrava: uma nova direção para a história social da escravidão. Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 8, n. 16, p. 143-160, 1988. Disponível em: mariahelenamachado (1).pdf. Acesso em 07 de março de 2022.

MENESES, Sônia. Os vendedores de verdades: o dizer verdadeiro e a sedução negacionista na cena pública como problema para o jornalismo e a história (2010-2020). Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 41, n. 87, p. 61-87, 2021. Disponível em https://www.scielo.br/j/rbh/a/868cZ9QBynvNmBW97MnNmfz/abstract/?lang=pt. Acesso em 13 de março de 2022.

MENESES, Sônia. Uma história ensinada para Homer Simpson: negacionismos e os usos abusivos do passado em tempos de pós-verdade. Revista História Hoje, São Paulo, v. 8, n.[7] 15, p. 66-88, 2019. Disponível em https://rhhj.anpuh.org/RHHJ/article/view/522. Aceso em 13 de março de 2022.

MOMIGLIANO, Arnaldo. As raízes clássicas da historiografia moderna. Bauru:

MONTEIRO, John Manuel. Negros da terra: índios e bandeirantes – origens de São Paulo. São Paulo: Companhia das Letras, 1994.

MONTEIRO, John Manuel. O desafio da história indígena no Brasil. In: SILVA, Aracy Lopes da S.; GRUPIONI, Luís D. Benzi (ed.). A temática indígena na escola: novos subsídios para professores de 1° e 2° graus. Brasília: MEC; Mari; Unesco, 1995. p. 221-228.

MUDROVCIC, María Inés. About lost futures or the political heart of history. Historein, v. 14, n. 21, p. 7-21, 2014. Disponível em: https://ejournals.epublishing.ekt.gr/index.php/historein/article/view/2294. Acesso: 10 de março de 2022.

NARLOCH, Leandro. Cotas não desligam o motor da desigualdade na USP. Folha de São Paulo, 12 de julho de 2017.

Disponível em: [8] https://www1.folha.uol.com.br/paywall/login.shtml https://www1.folha.uol.com.br/colunas/leandro-narloch/2017/07/1900510-cotas-nao-desligam-motor-de-desigualdade-da-usp.shtml . Acesso em 15 de abril de 2022.

NARLOCH, Leandro. Entrevista à rádio Jovem Pan. 13 de dezembro de 2017. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=f9qYQaaHLv4 . Acesso em 20 de abril de 2022.[9]

NARLOCH, Leandro. Guia politicamente incorreto da história do Brasil. São Paulo: Ed. Leya, 2009.

NARLOCH, Leandro. Líderes indígenas defendem mineração em suas terras. Jornal Folha de São Paulo, 11 de março de 2022.

NICOLAZZI, Fernando. Brasil Paralelo: restaurando a pátria, resgatando a história. A Independência entre memórias públicas e usos do passado. Apresentação no Seminário 3x22: 1822 – Independência: Memória e Historiografia (24-28 de maio de 2021). Disponível em https://www.academia.edu/49455769/NICOLAZZI_Fernando_Brasil_Paralelo_restaurando_a_pa_

tria_resgatando_a_histo_ria_A_Independ%C3%AAncia_entre_mem%C3%B3rias_p%C3%BAblicas_e_usos_do_passado .

Acesso 09/03/2022.

OHARA, João R. M. Virtudes Epistêmicas na Prática do Historiador: o caso da sensibilidade histórica na historiografia brasileira (1980-1990). História da Historiografia: International Journal of Theory and History of Historiography, Ouro Preto, v. 9, n. 22, 2017.[10] Disponível em: https://www.historiadahistoriografia.com.br/revista/article/view/1107. Acesso em 10 de março de 2022.

PALERMO, Luís Cláudio. Disputas no campo da historiografia da escravidão brasileira: perspectivas clássicas e debates atuais. Dimensões, Rio de Janeiro, n. 39, jul.-dez. 2017. Disponível em: https://periodicos.ufes.br/dimensoes/article/view/18638. Acesso em 10/03/2022.

PEREIRA, Mateus Henrique de Faria. Lembrança do presente. Belo Horizonte: Autentica, 2021

PEREIRA, Mateus Henrique de Faria. Nova direita? Guerras de memória em tempos de comissão da verdade (2012-

. Varia História, Belo Horizonte, v. 31, n. 57, p. 853-902, set-dez 2015. Disponível em: https://www.scielo.br/j/vh/a/NcJrcx93VSTVnnQnHVGXLYf/?format=pdf&lang=pt. Acesso em 12 de março de 2022.

PINHA, Daniel. Ditadura civil-militar e formação democrática como problemas historiográficos: interrogações desde a crise. Revista Transversos, Dossiê: Historiografia e Ensino de História em tempos de crise democrática, Rio de Janeiro, n. [11] 18, vol. 11, p. 37-63, 2020. Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/transversos/article/view/50330. Acesso em 10 de março de 2022.

PROENÇA, Gustavo. Os povos indígenas na constituição. 2015. Tese (Doutorado em Direito) – Programa de Pós-Graduação em Ciências Jurídicas: Goiânia, Universidade Federal de Goiás, 2015.[12]

QUEIRÓZ, Suely Robles Reis de. Escravidão negra em debate. In: FREITAS, Marcos Cezar (org). Historiografia brasileira em perspectiva. São Paulo: Contexto, 1998[13] . pp. 13-45.

RAMOS, Igor Guedes. Genealogia de uma operação historiográfica: as apropriações dos pensamentos de Edward Palmer Thompson e de Michel Foucault pelos historiadores brasileiros na década de 1980. (Doutorado em História). Programa de PósGraduação em História. São Paulo: Universidade Estadual Paulista, 2014.

REIS, João; SILVA, Eduardo. Negociação e conflito: a resistência negra no Brasil escravista. Rio de Janeiro: Companhia das Letras, 1989.

REIS, Maxi. A questão das terras indígenas e os governos brasileiros no século XXI. Revista Estudos Anarquistas e decoloniais. Rio de Janeiro, UFRJ, v. 1, n. 1, 2021.[14] Disponível em https://revistas.ufrj.br/index.php/read/article/view/47814/0 . Acesso em: 07 de março de 2022.

RIBEIRO, Darcy. Os índios e a civilização: a integração das populações indígenas no Brasil moderno. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1972.

RICOUER, Paul. A memória, a história e o esquecimento. Campinas: Ed Unicamp, 2007.

ROCHA, João Cezar de Castro. Guerra cultural e retórica do ódio: crônicas de um Brasil pós-político. Editora e Livraria Caminhos: Goiânia, 2021.

SANTOS, Maria Cristina. Caminhos historiográficos na construção da história indígena. História Unisinos. São Leopoldo, [15] v. 21, n. 3, p. 337-350, Setembro/Dezembro de 2017, Unisinos. Disponível em: https://revistas.unisinos.br/index.php/historia/article/view/htu.2017.213.04. Acesso em 10 de março de 2022.

SILVEIRA, Pedro Telles da. Lembrar e esquecer na internet: memória, mídias digitais e a temporalidade do perdão na esfera pública contemporânea. Varia Historia, Belo Horizonte, v. 37, n. 73, p. 287-321, jan/abr 2021.[16] Disponível em https://www.scielo.br/j/vh/a/qJ39yWqGZBNd6YvffnSLGTj/. Acesso em 10 de março de 2022.

SLENES, R. W. Na senzala, uma flor: esperanças e recordações na formação da família escrava (Brasil Sudeste, Século XIX). Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.

TURIN, Rodrigo. A polifonia do tempo: ficção, trauma e aceleração no Brasil contemporâneo. ArtCultura, Uberlândia, v. 19, n. 35, p. 55-70, jul.-dez. 2017.[17] https://seer.ufu.br/index.php/artcultura/article/view/41252 . Acesso em 15 de março de 2022.

VAINFAS, R. 1995. A heresia dos índios. São Paulo, Companhia das Letras.

VENÂNCIO, Renato. O incorreto no Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil. HHMagazine, 9 nov. 2018. Disponível em:

VIDAL-NAQUET, Pierre. Os assassinos da memória. Papirus: Campinas/SP, 1988.

Publicado

2023-12-29

Cómo citar

OLIVEIRA, R. P. Os usos abusivos da historiografia profissional pelos negacionismos históricos no Brasil em tempos de crise democrática: o caso do “Guia politicamente incorreto da história do Brasil” . História da Historiografia: International Journal of Theory and History of Historiography, Ouro Preto, v. 16, n. 41, p. 1–27, 2023. DOI: 10.15848/hh.v16i41.2020. Disponível em: https://historiadahistoriografia.com.br/revista/article/view/2020. Acesso em: 3 jul. 2024.

Número

Sección

Artículo original