Tópicas nos trópicos

o sublime em O Guarani (1857), de José de Alencar

Autores

DOI:

https://doi.org/10.15848/hh.v14i35.1604

Palavras-chave:

Romantismo, Literatura brasileira, Retórica

Resumo

Este texto volta-se para um conjunto de lugares-comuns presentes no romance O Guarani (1857), de José de Alencar. Para tanto, buscamos historicizar o paradigma artístico que subsidiou sua escrita, analisar a construção do éthos indígena e mapear algumas figuras mobilizadas para descrever as florestas brasileiras e o cataclismo que encerra a narrativa. Nossa proposta atém-se a uma abordagem estética que não negligencia o caráter datado dos códigos linguísticos, ou seja, tópicas como originalidade e genialidade foram tomadas como convenções ou constructos que o romance alencariano buscou dissimular para atender aos protocolos literários de sua época. Embora seja recorrente a negação dos artifícios retórico-poéticos, o romancista recorreu a novos recursos como, por exemplo, à concepção de sublime. Não há, portanto, ausência de protocolos e prescrições, mas a eleição de outros expedientes letrados articulados às propostas políticas de D. Pedro II, ao projeto indianista e às novas demandas estéticas.

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Biografia do Autor

Cleber Vinicius do Amaral Felipe, Universidade Federal de Uberlândia

Cleber Vinicius do Amaral Felipe tem experiência nas áreas de História e Teoria Literária, com estudos sobre práticas letradas/literárias produzidas entre os séculos XVI-XIX (poesia épica, relatos de naufrágio, contos, romances) e literatura de testemunho, com ênfase na obra de Primo Levi. É autor do livro Heroísmo na singradura dos mares: histórias de naufrágios e epopeias na conquista ultramarina portuguesa (2018) e coautor dos Estudos sobre a Épica Luso-Brasileira (Séculos XVI-XVIII), de 2021.

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Publicado

2021-03-29

Como Citar

FELIPE, C. V. do A. Tópicas nos trópicos: o sublime em O Guarani (1857), de José de Alencar . História da Historiografia: International Journal of Theory and History of Historiography, Ouro Preto, v. 14, n. 35, p. 21–51, 2021. DOI: 10.15848/hh.v14i35.1604. Disponível em: https://historiadahistoriografia.com.br/revista/article/view/1604. Acesso em: 28 mar. 2024.

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Artigo original