Escritas insubmissas

indisciplinando a História com Hortense Spillers e Saidiya Hartman

Autores

DOI:

https://doi.org/10.15848/hh.v14i36.1719

Palavras-chave:

Histórias não convencionais, Cultura historiográfica, Compreensão histórica

Resumo

Este artigo demonstrará o potencial indisciplinar do que definiremos como escritas insubmissas da história. Isso será feito em dois momentos: inicialmente através da procura de Hortense Spillers por uma “nova gramática”, capaz de redefinir a forma estereotipada como os negros são pensados e escritos no presente; em seguida, terá como foco o conceito de “fabulação crítica”, proposto por Saidiya Hartman, que é tanto uma alternativa teórica para exceder ou negociar lacunas do arquivo da escravidão, quanto uma reflexão indisciplinar sobre o que faz o historiador. Antes, porém, explicaremos como essas escritas insubmissas da história fazem parte de uma tradição radical negra, que, desde o final do século XIX, tem se insurgido contra o disciplinamento epistêmico ocidental. Desafios teóricos, veremos, que semprem estiveram profundamente conectados com as demandas político-sociais dos protestos radicais contra a violência antinegra nos Estados Unidos. Ao término, a partir das considerações de Spillers e Hartman, este texto enseja pensar a indisciplina como um fim radical possível em um mundo antinegro. 

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Allan Kardec Pereira, Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Allan K. Pereira é doutorando em História pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e professor substitudo do curso de História da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). É membro do GT de Teoria e História da Historiografia da UFRGS. Pesquisa temas relacionados ao racismo antinegritude, Afro-Pessimismo e o Black Lives Matter. 

Referências

ALEXANDER, Elizabeth. “Can you be BLACK and look at this?”: Reading the Rodney King Video(s). Public Culture, New York, v. 7, n. 1, p. 77–94, 1994. Disponível em:

https://cutt.ly/6ffM7y7. Acesso em: 23 jul. 2020.

AZOULAY, Ariella. Potential History: Thinking through Violence. Critical Inquiry, Chicago, v. 39, n. 3, p. 548-574, 2003. Disponível em: https://www.jstor.org/stable/10.1086/670045. Acesso em: 22 jun. 2020.

BILGE, Sirma. The fungibility of intersectionality: na Afropessimist Reading. Ethnic and Racial Studies, Surrey, v. 43, n. 13, p. 2298-2326, 2020. Disponível em:

https://cutt.ly/wff90K3. Acesso em: 20 ago. 2020.

BLASSINGAME, John. The Slave Community: Plantation Life in the Antebellum South. New York: Oxford UP, 1972.

BRITISH COUNCIL. O ensino de inglês na educação pública brasileira: elaborado com exclusividade para o British Council pelo Instituto de Pesquisas Plano CDE. São Paulo, SP: British Council Brasil, 2015. Disponível em: https://www.britishcouncil.org.br/sites/default/files/final-publicacao_politicaspublicasingles-compressed.pdf. Acesso: 02 jun. 2021.

duCILLE, Ann. The Occult of True Black Womanhood: Critical Demeanor and Black Feminist Studies. Signs: Journal of Women in Culture and Society, Chicago, v. 19, n. 3, p. 591–629, 1994. Disponível em: https://www.jstor.org/stable/3174771.

Acesso em: 7 jul. 2020.

FANON, Frantz. Os Condenados da Terra. Tradução: José Laurênio de Melo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1968.

FERREIRA da SILVA, Denise; LEEB, Susanne; STAKEMEIER, Kerstion. Um fim para ‘este’ mundo: entrevista de Denise Ferreira da Silva na revista Texte Zur Knust. Revista DR, [s. l.], v. 5, 2020. Disponível em: https://cutt.ly/Nff0ER6. Acesso em: 15 ago. 2020.

FERREIRA da SILVA, Denise. Ninguém: direito, racialidade e violência. Meritum, Belo Horizonte, v. 9, n.1, p. 67-117, 2014.

FERREIRA da SILVA, Denise. Para uma Poética Negra Feminista: A questão da Negridade para o (fim do) mundo. In: FERREIRA da SILVA, Denise. A Divida Impagável. São Paulo: Oficina de Imaginação Política e Living Commons, 2019. p. 85-121.

FERREIRA da SILVA, Denise. Toward a Global Idea of Race, Minneapolis/London: University of Minnesota Press, 2007.

GILMORE, Ruth Wilson. Golgen Gulag: prison, surplus, crisis, and opposition in globalizing. Los Angeles: University of California Press, 2007.

GLISSANT, Édouard. Caribbean Discourse. Tradução de J. Michael Dash. Charlottesville: University Press of Virginia, 1992.

GLISSANT, Édouard. The Poetics of Relation. Tradução de Betsy Wing. Ann Arbor: The University of Michigan Press, 1997.

GORDON, Lewis. Decadencia disciplinaria: Pensamiento vivo em tiempos difíciles. Tradução de Marina Anatolievna Dekaldieva; Dana Keen-Morales. Quito: Ediciones Abya-Yala, 2013.

HARTMAN, Saidiya; WILDERSON III, Frank B. The Position of Unthought.

Qui Parle, Durham, v. 3, n. 2, p. 183-201, 2003. Disponível em: http://www.jstor.org/stable/20686156. Acesso em: 1 jul. 2020.

HARTMAN, Saidiya. Intimate History, Radical Narrative. Black Perspectives, 22, maio, 2020. Disponível em: https://www.aaihs.org/intimate-history-radical-narrative/.

Acesso em: 23 maio 2020.

HARTMAN, Saidiya. Lose Your Mother: A Journey Along the Atlantic Slave Route. New York: Farrar, Straus & Giroux, 2007.

HARTMAN, Saidiya. Scenes of Subjection: Terror, Slavery, and Self-Making in Nineteenth-Century America. Oxford: Oxford University Press, 1997.

HARTMAN, Saidiya. Under the Blacklight – Storytelling While Black and Female: Conjuring Beatiful Experiments. Youtube, 2020. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=xGS5aP5Vi7g. Acesso em: 03 ago. 2020.

HARTMAN, Saidiya. Venus in Two Acts. Small Axe, Durham, v. 12, n. 2, p. 1-14, 2008. Disponível em: https://muse.jhu.edu/article/241115. Acesso em: 25 jun. 2020.

HULL, Gloria; BELL-SCOTT, Patricia; SMITH, Barbara, eds. All the Women Are White, All the Blacks Are Men, But Some of Us Are Brave. New York: Feminist Press, 1982.

LORDE, Audre. Irmã Outsider: Ensaios e Conferências. Tradução: Sthepanie Borges. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2019.

LORDE, Audre. The Collected Poems of Audre Lorde. New York: W.W. Norton, 2000.

MACHARIA, Keguro. Frottage: Frictions of Intimacy across the Black Diaspora.

New York: NYU Press, 2019.

MALERBA, Jurandir. Os historiadores e seus públicos: desafios ao conhecimento histórico na era digital. Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 37, n. 74, p. 135-154, 2017.

MARABLE, Manning. Black studies and the racial mountain. Souls, New York, v. 2, n. 3, p. 17-36, 2000. Disponível em: https://cutt.ly/CffBvgH. Acesso em: 14 jul. 2020.

MCKITTRICK, Katherine. Mathematics Black Life. The Black Scholar, San Francisco, v. 44, n. 2, p. 16-28, 2014. Disponível em: https://www.jstor.org/stable/10.5816/blackscholar.44.2.0016. Acesso em: 15 jun 2020.

MELAMED, Jodi. Represent and Destroy: rationalizing violence in the new racial capitalismo. Minneapolis/London: University Minnesota Press, 2011.

MOMBAÇA, Jota. A Plantação Cognitiva. Arte e descolonização: MASP Afterall, São Paulo, v. 3, p. 1-11, 2020. Disponível em: https://cutt.ly/2ff1NDx. Acesso em: 12 ago. 2020.

MORRISON, Toni. Toni Morrison Nobel Lecture. The Nobel Prize, 7, dez., 1993. Disponível em: https://www.nobelprize.org/prizes/literature/1993/morrison/lecture/. Acesso em: 17 jul. 2020.

MUHAMMAD, Khalil Gibran. The Condemnation of Blackness: Race, Crime, and the Making of Modern Urban America. Cambridge: Harvard University Press, 2010.

RANGEL. Marcelo de Mello. A urgência do giro ético-político: o giro ético político na teoria da história e na história da historiografia. Ponta de Lança, São Cristóvão, v. 13, p. 27-46, 2019.

RAWICK, George P. From Sundown to Sunup: the Making of the Black Community. Westport: Greenwood Pub., 1972.

RODRIGUEZ, Dylan. Forced Passages: imprisioned radical intellectuals and the U.S. prison regime. Minneapolis/London: University Minnesota Press, 2006.

SCHWARCZ, Lilian Moritz. Filme de Beyoncé erra ao glamorizar negritude com estampa de oncinha. Folha de São Paulo. 2 ago. 2020. Disponível em: https://cutt.ly/4ff0L7e. Acesso em: 3 ago. 2020.

SEXTON, Jared. Afro-Pessimism: The Unclear Word. Rhizomes: Cultural Studies in Emerging Knowledge, Bowling Green, n. 29, 2016. Disponível em: https://cutt.ly/1ffBhGo. Acesso em: 22 jul. 2020.

SNORTON, C. Riley. Black on Both Sides: A Racial History of Trans Identity. Minneapolis/London: University of Minnesota Press, 2017.

SPILLERS, Hortense J. Mama’s Baby, Papa’s Maybe: An American Grammar Book. Diacritics, Baltimore, v. 17, n. 2, p. 64-81, 1987. Disponível em: https://www.jstor.org/stable/464747. Acesso em: 02 jul. 2020.

SPILLERS, Hortense; HARTMAN, Saidiya; GRIFFIN, Jasmine et al. “Whatcha Gonna Do?”: Revisiting Mama’s Baby, Papa’s Maybe: An American Grammar Book: A Conversation with Hortense Spillers, Saidiya Hartman, Farah Jasmine Griffin, Shelly Eversley, & Jennifer L. Morgan. Women’s Studies Quarterly, Baltimore, v. 35, n. 1/2, p. 299-309, 2007. Disponível em: http://www.jstor.org/stable/27649677. Acesso em: 14 jun. 2020.

SPILLERS, Hortense. A Ideia de Cultura Negra. Revista Translatio, Porto Alegre, n. 13, p. 72-94, 2017. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/translatio/article/view/74345/42058 Acesso em: 28 jun. 2020.

SPIVAK, Gayatri Chakravorty. Pode o subalterno falar? Belo Horizonte: Editora UFMG, 2014.

TURIN, R.; AVILA, A.; NICOLAZZI, F. F. (org.). A História (in)Disciplinada: Teoria, ensino e difusão de conhecimento histórico. 1. ed. Vitória: Milfontes, 2019.

WARREN, Calvin. Ontological Terror: Blackness, Nihilism, and Emancipation. Durhan: Duke University Press, 2018.

WEHELIYE, Alexander. Habeas Viscus: Racializing Assemblages, Biopolitics and Black Feminist Theories of the Human. Durham, North Carolina: Duke University Press, 2014.

WYNTER, Sylvia. “No Humans Involved”: An Open Letter to My Colleagues. Forum N.H.I. : Knowledge for the 21st Century: Knowledge on Trial, Stanford, v. 1, n. 1, p. 42-73, 1994.

Downloads

Publicado

2021-08-31

Como Citar

PEREIRA, A. K. Escritas insubmissas: indisciplinando a História com Hortense Spillers e Saidiya Hartman. História da Historiografia: International Journal of Theory and History of Historiography, Ouro Preto, v. 14, n. 36, p. 481–508, 2021. DOI: 10.15848/hh.v14i36.1719. Disponível em: https://historiadahistoriografia.com.br/revista/article/view/1719. Acesso em: 22 dez. 2024.

Edição

Seção

Dossiê: História como (In)disciplina