O látego e o riso

a historiografia republicana de Joaquim Felício dos Santos

Autores

DOI:

https://doi.org/10.15848/hh.v14i36.1715

Palavras-chave:

Usos da história, Ética para os historiadores, Ideologia

Resumo

Este artigo examina as estratégias retóricas e comunicacionais usadas pela tradição republicana brasileira para disciplinar o campo historiográfico no século XIX. O republicanismo é abordado como forma de governo (BOBBIO), ética (CATROGA) e linguagem política (POCOCK) para refletir sobre uma questão central: é possível falar em ética política como elemento meta-histórico? O objeto de análise é a obra de Joaquim Felício dos Santos, especialmente seus artigos políticos e satíricos publicados no jornal O Jequitinhonha (1861-1874). Os resultados deste estudo expõem algumas características da tradição historiográfica republicana no momento de sua criação: a transdisciplinaridade; a apropriação da herança antimonárquica clássica; o esforço de tradução do saber científico para as linguagens jornalística e satírica; o enfoque dualista; a conexão com a história da modernidade; e o argumento do anacronismo.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Amanda da Silva Martins, Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Amanda Martins é PhD em história pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, sob a orientação do professor Temístocles Cezar. Fez estágio na Universidade de Ghent (BE), sob supervisão do professor Berber Bevernage. Atua na área de teoria da história, teoria de-colonial, filosofia ambiental, ficção histórica, escrita criativa e literatura multicultural. É idealizadora do podcast Águas Futuras, dedicado à ficção histórica.

Referências

ALONSO, Ângela. Ideias em movimento. A geração 1870 na crise do Brasil-Império. São Paulo: Paz e Terra, 2002.

ARISTÓTELES. Política. Tradução: Mário da Gama Kury. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 1985.

BENHABIB, Seyla. Models of public space: Hannah Arendt, the liberal tradition, and Jürgen Habermas. In: CALHOUN, Craig (org). Habermas and the public sphere. Cambridge, MA: MIT Press, 1992. p. 73-98.

BERNARDO, Isadora Prévidi. O De Re Publica, de Cícero: natureza, política e história. 2012. Dissertação (Mestrado em Filosofia), Programa de Pós-Graduação em Filosofia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2012.

BOBBIO, Norberto. A teoria das formas de governo. Tradução de Sérgio Bath. Brasília: Editora UnB, 2001.

BOSI, Alfredo. Poesia resistência. In: BOSI, Alfredo. O ser e o tempo da poesia. São Paulo: Cultrix, 1977. p. 139-192.

BOYM, Svetlana. Mal-estar na nostalgia. História da historiografia: International Journal of Theory and History of Historiography, Ouro Preto, v. 10, n. 23, p. 152-165, abr. 2017. Disponível em: https://www.historiadahistoriografia.com.br/revista/article/view/1236. Acesso em: 20 ago. 2021.

CATROGA, Fernando. Ensaio Respublicano. Lisboa: Fundação Francisco Manuel dos Santos, 2011.

CEZAR, Temístocles. Presentismo, memória e poesia. Noções da escrita da História do Brasil oitocentista. In: PESAVENTO, Sandra Jatahy (org.). Escrita, linguagem, objetos: leituras de história cultural. Bauru, SP: Edusc, 2004. p. 43-80.

CHACON, Vamireh. Passado e futuro da historiografia brasileira. Revista de História, São Paulo, n. 106, p. 559-562, 1976.

CÍCERO, Marco Tulio. De re publica. Translation: Clinton Walker Keyes. Cambridge: Harvard University Press, 1988.

CÍCERO. Retórica a Herênio. Tradução: Ana Paula Celestino Faria e Adriana Seabra. São Paulo: Hedra, 2005.

CIRIBELLI, Marilda Correa. Historiografia romana: das origens à época de Augusto. Revista de História, São Paulo, n. 106, p. 557-504, 1976.

D’ALESSIO, Márcia Mansor; JANOTTI, Maria de Lourdes Mônaco. A esfera do político na produção acadêmica dos programas de pós-graduação (1985-1994).

Estudos Históricos, Rio de Janeiro, n. 17, p. 123-149, 1996.

D’ALESSIO, Marcia Mansor. Os annales no Brasil. Algumas reflexões. Anos 90, Porto Alegre, n. 2, p. 127-143, 1994.

EULÁLIO, Alexandre. As páginas do ano 2000. Revista do Livro, Rio de Janeiro, ano II, p. 102-160, 1957.

FERNANDES, Neusa de Araújo. Intertextualidade e erudição no discurso argumentativo de editoriais de O Jequitinhonha, de Diamantina, no século XIX (1868-1869). 2001. Dissertação (Mestrado em Letras) – Programa de Pós-Graduação em Letras, Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2001.

FICO, Carlos; POLITO, Ronald. A historiografia brasileira nos últimos 20 Anos. Tentativa de avaliação crítica. Varia História, Belo Horizonte, n. 13, p. 147-162, 1994.

FONSECA, Silvia Carla Pereira de Brito. O conceito de República nos primeiros anos do Império: a semântica histórica como um campo de investigação das ideias políticas. Anos 90. Porto Alegre, v. 13, n. 23/24, 2006.

GUARINELLO, Norberto Luiz. Memória coletiva e história científica. Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 14, n. 28, p. 180-193, 1994.

GUIMARÃES, Lúcia M. Paschoal. Debaixo da imediata proteção de Sua Majestade Imperial: o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (1838-1889). Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Rio de Janeiro, n. 388, 1995.

GUIMARÃES, Manoel Luiz Lima Salgado. Historiografia e Escrita da História. Ágora, Vitória, v. 11, n. 1, p. 31-47, 2005.

GUIMARÃES, Manoel Luiz Lima Salgado. Nação e Civilização nos Trópicos: o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e o projeto de uma história nacional.

Estudos Históricos, Rio de Janeiro, n. 1, p. 5-27, 1988.

LIBERAL MINEIRO, ed. 116, 1884.

LIBERAL MINEIRO, ed. 24, 1885.

LIDDINGTON, Jill. O que é história pública? In: ALMEIDA, Juniele Rabêlo de; ROVAI, Marta Gouveia de Oliveira (org.). Introdução à história pública. São Paulo: Letra e Voz, 2011. p. 31-52.

MALERBA¸ Jurandir. Lições de história. O caminho da ciência no longo século XIX. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2010.

MARTINS, Amanda. Entre polos: a política como elemento meta-histórico no Brasil Oitocentista. 2017. Tese (Doutorado em História) – Programa de Pós-Graduação em História, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2017.

MATHEUS, Letícia Cantarela. Comunicação, tempo, história: tecendo o cotidiano em fios jornalísticos. Rio de Janeiro: Mauad X/ Faperj, 2011.

MOMIGLIANO, Arnaldo. Tácito e a tradição taciteana. In: MOMIGLIANO, Arnaldo. As Raízes Clássicas da Historiografia Moderna. Tradução: Maria Beatriz Borba Florenzano. Bauru: EDUSC, 2004. p. 187-155.

MOTA, Carlos Guilherme. Ideologia da cultura brasileira (1933-1974). São Paulo: Editora 34, 2008.

NOTICIADOR DE MINAS, ed. 84, 1869.

O JEQUITINHONHA, ed. 5, 1861a.

O JEQUITINHONHA, ed. 7, 1861b.

O JEQUITINHONHA, ed. 9, 1861c.

O JEQUITINHONHA, ed. 19, 1861d.

O JEQUITINHONHA, ed. 36, 1861e.

O JEQUITINHONHA, ed. 101, 1863.

O JEQUITINHONHA, ed. 14, 1868.

O JEQUITINHONHA, ed. 5, 1869a.

O JEQUITINHONHA, ed. 7, 1869b.

O JEQUITINHONHA, ed. 22, 1869c.

O JEQUITINHONHA, ed. 29, 1869d.

O JEQUITINHONHA, ed. 32, 1869e.

O JEQUITINHONHA, ed. 35, 1869f.

O JEQUITINHONHA, ed. 51, 1869g.

O JEQUITINHONHA, ed. 145, 1872.

O LIBERAL, Recife, ed. 17, 1864.

OLIVEIRA, Roberto Arruda. Alguns aspectos da Sátira VI de Juvenal. Caderno de Letras, Pelotas, n. 21, p. 31-42, 2013.

PATSCHIKI, Lucas. Os litores da nossa burguesia: o Mídia Sem Máscara em atuação partidária (2002-2011). 2012. Dissertação (Mestrado em História) – Programa de Pós-Graduação em História, Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Marechal Cândido Rondon, 2012.

POCOCK, John Greville. Linguagens do ideário político. Tradução de Fábio Fernandez. São Paulo: Edusp, 2013.

POCOCK, John Greville. Politics, Language and Time: Essays on Political Thought and History. London : Methuen, 1989 [1972].

REZENDE, Antônio Martinez de. Rompendo o silêncio: a construção do discurso oratório em Quintiliano. Belo Horizonte: Crisálida, 2010.

RIBEIRO, Ana Cláudia Romano. Arqueologia da ficção científica brasileira: as viagens imaginárias de Joaquim Felício dos Santos. Remate de Males, Campinas, v. 32, n. 2, p. 211-228, 2012.

RODRIGUES, José Honório. História da história do Brasil: a historiografia conservadora. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1988.

RODRIGUES, José Honório. História da história do Brasil. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1979.

SÁNCHEZ MARÍN, José Antonio. O adulador em Roma. Ágora. Estudos Clássicos em Debate, Aveiro, n. 5, p. 43-55, 2003.

SANTOS, Joaquim Felício dos. Memórias do Districto Diamantino na comarca do Serro Frio (província de Minas Geraes). Rio de Janeiro: Typografia Americana, 1868.

SCHWARCZ, Lilia Moritz. O espetáculo das raças: cientistas, instituições e questão racial no Brasil – 1870-1930. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.

TURIN, Rodrigo. Uma nobre, difícil e útil empresa: o ethos do historiador oitocentista. História da historiografia: International Journal of Theory and History of Historiography, Ouro Preto, n. 2, p. 12-28, mar. 2009. Disponível em:

https://www.historiadahistoriografia.com.br/revista/article/view/4. Acesso em: 20 ago. 2021.

UDEN, James. The invisibility of Juvenal. 2011. Thesis (PhD in Arts and Sciences) - School of Arts and Sciences, Columbia University, New York, 2011.

VARELLA, Flávia Florentino. Sine ira et Studio: retórica, tempo e verdade na historiografia de Tácito. História da Historiografia: International Journal of Theory and History of Historiography, Ouro Preto, n. 1, p. 71-87, ago. 2008. Disponível em: https://www.historiadahistoriografia.com.br/revista/article/view/26. Acesso em: 20 ago. 2021.

Downloads

Publicado

2021-08-31

Como Citar

MARTINS, A. da S. O látego e o riso: a historiografia republicana de Joaquim Felício dos Santos. História da Historiografia: International Journal of Theory and History of Historiography, Ouro Preto, v. 14, n. 36, p. 403–433, 2021. DOI: 10.15848/hh.v14i36.1715. Disponível em: https://historiadahistoriografia.com.br/revista/article/view/1715. Acesso em: 26 dez. 2024.

Edição

Seção

Dossiê: História como (In)disciplina