Entre o imperativo do arquivo e a retórica bandeirante

a constituição de um saber científico para a invenção do paulista

Autores

DOI:

https://doi.org/10.15848/hh.v14i36.1708

Palavras-chave:

Retórica, Arquivo, Historicidade

Resumo

O presente texto analisa a história da construção de um saber que, para se estabelecer, necessitou da montagem de um arquivo. Esse saber será apresentado por meio da análise do Curso de Bandeirologia, ministrado na cidade de São Paulo no ano de 1946. No decorrer da narrativa, o leitor terá contato com fragmentos dos gestos arquivísticos e com a repetição de enunciados que resultaram na constituição da retórica bandeirante, um campo discursivo empenhado em criar e fazer crer em uma explicação para a História do Brasil dependente e ancorada nos acontecimentos delimitados pela história das bandeiras paulistas, que se procura consolidar como uma nova historicidade para o Brasil.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Karina Anhezini, Universidade Estadual Paulista

Karina Anhezini é doutora em História pela Universidade Estadual Paulista (UNESP) - campus de Franca, com Pós-Doutorado na Universidade Paris 8 - Vincennes-Saint-Denis e no Instituto de História do Tempo Presente (IHTP). É vice-presidente da Sociedade Brasileira de Teoria e História da Historiografia - SBTHH (2018-2021); coordena o PPG-História da UNESP (2021-2025) e é Editora Chefe da Revista História (São Paulo). Possui pesquisas voltadas para a História da Historiografia e Teoria da História, atuando principalmente nos seguintes temas: Historiografia brasileira, História de São Paulo, Afonso Taunay, biografia intelectual, museus e memória.

Referências

ABEL, Marcos Chedid. Verdade e fantasia em Freud. Ágora, Rio de Janeiro, v. XIV, n. 1, p. 47-60, jan./jun. 2011.

ABREU, Capistrano de. Capítulos de história colonial (1500-1800). Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Publifolha, 2000.

ABUD, Kátia. A idéia de São Paulo como formador do Brasil. In: FERREIRA, A. C.; LUCA, T.; IOKOI, Z. G. (org.). Encontros com a História: percursos históricos e historiográficos de São Paulo. São Paulo: UNESP, 1999. p. 71-80.

ABUD, Kátia. O sangue intimorato e as nobilíssimas tradições. (A construção de um símbolo paulista: o bandeirante). 1985. Tese (Doutorado em História). Programa de Pós-Graduação em História, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1985.

ALBUQUERQUE JR., Durval Muniz. A invenção do Nordeste e outras artes. 5. ed. São Paulo: Editora Cortez, 2011.

ALBUQUERQUE JR., Durval Muniz. O objeto em fuga: algumas reflexões em torno do conceito de região. Fronteiras, Dourados, v.10, n.17, p. 55-67, 2008.

ANHEZINI, Karina. Desnudar a historiografia na Primeira República: Alberto Rangel e Afonso Taunay na construção da Marquesa de Santos. In: BENTIVOGLIO, Julio; NASCIMENTO, Bruno César (org.). Escrever história: historiadores e historiografia brasileira nos séculos XIX e XX. Serra: Editora Milfontes, 2017. p. 185-202.

ANHEZINI, Karina. Na entrecena da construção da história no Brasil (1878- 1934).

In: MEDEIROS, Bruno Franco; SOUZA, Francisco Gouvea de; RANGEL, Marcelo de Mello; PEREIRA, Mateus H. F. (org.). Teoria e Historiografia: Debates Contemporâneos. Jundiaí: Paco Editorial, 2015a. p. 233-246.

ANHEZINI, Karina. Afonso Taunay, A propósito do curso de História da Civilização Brasileira. In: NICOLAZZI, Fernando (org.). História e historiadores no Brasil:

do fim do Império ao alvorecer da República: 1870-1930. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2015b. p. 395-417.

ANHEZINI, Karina. Um metódico à brasileira: a história da historiografia de Afonso de Taunay (1911-1939). São Paulo: Editora UNESP, 2011.

BOURDON, Étienne. La forge gauloise de la nation. Ernest Lavisse et la fabrique des ancêtres. Lyon: ENS Éditions 2017.

BORREGO, Maria Aparecida de Menezes. Perspectivas sobre a representação das monções no Museu Paulista e no Museu Republicano de Itu. MIDAS: Museu e estudos interdisciplinares, Évora, n. 10, p. 1-21, 2019.

BREFE, Ana Cláudia Fonseca. Museu Paulista: Affonso de Taunay e a memória nacional, 1917-1945. São Paulo: UNESP, 2005.

Carta de Alberto Rangel a Afonso de Taunay. Paris, 30 de dezembro de 1923. Coleção Taunay. Acervo do Museu Paulista.

CAVENAGHI, Airton José. A construção da memória historiográfica paulista: dom Luiz de Céspedes Xeria e o mapa de sua expedição de 1628. Anais do Museu Paulista,

São Paulo, v.19, n. 1, p. 81-113, jun. 2011.

CARVALHO, Raphael Guilherme de. Sérgio Buarque de Holanda, do mesmo ao outro: escrita de si e memória (1969-1986). 2017. Tese (Doutorado em História). Programa de Pós-Graduação em História, Universidade Federal do Paraná (UFPR), Curitiba, 2017.

CERTEAU, Michel. História e psicanálise: entre ciência e ficção. Tradução de Guilherme João de Freitas Teixeira. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2011.

CERTEAU, Michel de. A escrita da história. Tradução de Maria de Lourdes Menezes. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2010.

CEZAR, Temístocles. Ser historiador no século XIX: o caso Varnhagen. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2018.

CINTRA, Jorge Pimentel; BEIER, José Rogério; RABELO, Lucas Montalvão. Affonso de Taunay e as duas versões do mapa de D. Luis de Céspedes Xeria (1628). Anais do Museu Paulista: Nova Série, São Paulo, v. 26, p. 1-53, 2018.

COPPES JR., Gerson Ribeiro. “Um problema histórico-geográfico”: Emergências de um saber geográfico no Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo e no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (1895-1954). 2021. Tese (Doutorado em História) – Programa de Pós-Graduação em História, Universidade Estadual Paulista, Franca, 2021.

DROYSEN, Johann Gustav. Manual de Teoria da História. Tradução de Sara Baldus e Júlio Bentivoglio. Petrópolis: Vozes, 2009.

ELLIS JR. Alfredo. O bandeirismo na economia do século 17. In: TAUNAY, Afonso de et al. Curso de Bandeirologia. São Paulo: Departamento Estadual de Informações, 1946. p. 53-76.

ERBERELI Jr., Otávio. A escrita da história entre dois mundos: uma análise da produção de Alice Piffer Canabrava (1935-1961). 2014. Dissertação (Mestrado em História) - Programa de Pós- Graduação em História - Universidade Estadual Paulista, Assis, 2014.

ERBERELI Jr., Otávio. A trajetória intelectual de Alice Piffer Canabrava: um ofício como sacerdócio (1935-1997). 2019. Tese (Doutorado em História Econômica) - Programa de Pós-Graduação em História Econômica – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2019.

FALCON, Francisco José Calazans. Capistrano de Abreu e a historiografia cientificista: entre o positivismo e o historicismo. In: NEVES, Lucia Maria Basto Pereira das Neves; et al (org.). Estudos de Historiografia Brasileira. Rio de Janeiro: FGV, 2011. p. 151-161.

FERREIRA, Antônio Celso. A epopéia bandeirante: letrados, instituições, invenção histórica (1870-1940). São Paulo: UNESP, 2002.

FERREIRA, Marieta de Moraes. A história como ofício: a constituição de um campo disciplinar. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2013.

FERRETTI, Danilo José Zioni. Lições do passado bandeirante no “Curso de Bandeirologia”: Taunay e Sérgio Buarque de Holanda (1946). In: SEMINARIO NACIONAL DE HISTÓRIA DA HISTORIOGRAFIA, 3, 2009, Ouro Preto. Anais [...]. Ouro Preto: Edufop, 2009.

p. 1-11.

FOUCAULT, Michel. Nietzsche, a genealogia e a história. In: FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. Tradução de Roberto Machado. Rio de Janeiro: Edições Graal, 2008. p. 15-37.

FRANCO. Afonso Arinos de Melo. A sociedade bandeirante das minas. In: TAUNAY, Afonso de et al. Curso de Bandeirologia. São Paulo: Departamento Estadual de Informações, 1946. p. 77-104.

FRANCO, Gilmara Yoshihara. O bandeirante como elemento constitutivo da identidade mato-grossense: uma interpretação a partir da obra de Virgílio Corrêa Filho.

In: ROIZ, Diogo da Silva; ARAKAKI, Suzana; ZIMMERMANN, Tânia Regina (org.).

Os bandeirantes e a historiografia brasileira: questões e debates. Serra: Editora Milfontes, 2018. p. 169-194.

GLEZER, Raquel. O fazer e o saber na obra de José Honório Rodrigues: um modelo de análise historiográfica. 1976. Tese (Doutorado em História) – Programa de Pós-Graduação em História, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1976.

GOMES, Ângela de Castro. A República, a Historiografia e o IHGB. Belo Horizonte: Argmentvm, 2009.

GONTIJO, Rebeca. O velho vaqueano: Capistrano de Abreu (1853-1927): memória, historiografia e escrita de si. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2013.

GUIMARÃES, Lúcia Maria Paschoal. Sobre a história da historiografia brasileira como campo de estudo e reflexões. In: NEVES, Lucia Maria Basto Pereira das Neves; et al (org.). Estudos de Historiografia Brasileira. Rio de Janeiro: FGV, 2011. p. 19-35.

HARTOG, François. Crer em História. Tradução de Camila Dias. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2017.

HARTOG, François. Tempo, história e a escrita da história: a ordem do tempo. Revista de História, São Paulo, n. 148, p. 9-34, 2003.

HOLANDA, Sérgio Buarque de. Monções e Capítulos de expansão paulista. 4. ed. Organização Laura de Mello e Souza, André Sekkel Cerqueira. São Paulo: Companhia das Letras, 2014.

HOLANDA, Sérgio Buarque de. O pensamento histórico no Brasil nos últimos 50 anos. In: MONTEIRO, Pedro Meira; EUGÊNIO, João Kennedy (org.). Sérgio Buarque de Holanda: perspectivas. Campinas: Editora da UNICAMP; Rio de Janeiro: EdUERJ, 2008. p. 601-615.

HOLANDA, Sérgio Buarque de. As monções. In: TAUNAY, Afonso de et al. Curso de Bandeirologia. São Paulo: Departamento Estadual de Informações, 1946. p. 125-146.

LEITE, Mirian Moreira. O terceiro andar da Escola da Praça. In: REIS, Maria Cândida Delgado (org.). Caetano de Campos: fragmentos da história da instrução pública no Estado de São Paulo. São Paulo: Associação de ex-alunos do Instituto de Educação Caetano de Campos, 1994. p.104-114.

LIMA, Solange Ferraz de; CARVALHO, Vânia Carneiro de. São Paulo Antigo, uma encomenda da modernidade: as fotografias de Militão nas pinturas do Museu Paulista. Anais do Museu Paulista: História e Cultura Material, São Paulo, n. 1, p. 147-178, 1993.

MARINS, Paulo Garcez. O museu da paz: sobre a pintura histórica no Museu Paulista durante a gestão Taunay. In: OLIVEIRA, Cecília Helena de Salles (org.). O Museu Paulista e a gestão Afonso Taunay: escrita da história e historiografia, séculos XIX e XX. São Paulo: Museu Paulista da USP, 2017. p. 159-191.

MONTEIRO, John. Caçando com gato: raça, mestiçagem e identidade paulista na obra de Alfredo Ellis Jr. Novos Estudos CEBRAP, São Paulo, n. 38, p. 61-78, 1994.

MONTEIRO, Pedro Meira; EUGÊNIO, João Kennedy (org.). Sérgio Buarque de Holanda: perspectivas. Campinas: Editora da UNICAMP; Rio de Janeiro: EdUERJ, 2008.

NICODEMO, Thiago Lima. Urdidura do Vivido: Visão do Paraíso e a obra de Sérgio Buarque de Holanda nos anos 1950. São Paulo: Editora da USP, 2008.

NICODEMO, Thiago Lima; PEREIRA, Matheus Henrique de Faria.; SANTOS, Pedro Afonso Cristóvão dos. Uma Introdução à História da Historiografia Brasileira.

-1970. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2018.

OLIVEIRA, Maria da Glória de. Crítica, Método e Escrita da História em João Capistrano de Abreu. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2013.

PEREIRA, Mateus Henrique de Faria; SANTOS, Pedro Afonso Cristovão dos. Odisseias do conceito moderno de história: “Necrológio de Francisco Adolfo de Varnhagen”, de Capistrano de Abreu, e “O pensamento histórico no Brasil nos últimos ciquenta anos”, de Sérgio Buarque de Holanda, revisitados. Revista IEB, São Paulo, n. 50, p. 27-78, set./mar. 2010.

RANGEL, Lívia de Azevedo Silveira. Lídia Besouchet e Newton Freitas: mediações políticas e intelectuais entre o Brasil e o Rio da Prata (1938-1950). 2016. Tese (Doutorado em História). Programa de Pós-Graduação em História, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2016.

RIBEIRO, Joaquim. Problemas fundamentais do folklore dos bandeirantes. In: TAUNAY, Afonso de et al. Curso de Bandeirologia. São Paulo: Departamento Estadual de Informações, 1946. p. 105-124.

RICARDO, Cassiano. Pequeno ensaio de bandeirologia. Rio de Janeiro: Departamento da Imprensa Nacional, 1956.

ROIZ, Diogo da Silva. A dialética entre o “intelectual-letrado” e o “letrado- intelectual”: projetos, tensões e debates na escrita da história de Alfredo Ellis Jr. e Sérgio Buarque de Holanda (1929-1959). 2013. Tese (Doutorado em História) – Programa de Pós-Graduação em História, Universidade Federal do Paraná (UFPR), Curitiba, 2013.

ROIZ, Diogo da Silva. Os caminhos (da escrita) da história e os descaminhos de seu ensino. Curitiba: Appris, 2012.

São Paulo de ontem, de hoje e de amanhã. Boletim do Departamento Estadual de Informações, ano VI, n. 21, janeiro a junho de 1946.

SCHNEIDER, Alberto Luiz. Os Paulistas e os outros: fama e infâmia na representação dos moradores da capitania de São Paulo nas letras dos séc. XVII e XVIII.

Projeto História, São Paulo, n. 57, p. 84-107, 2016.

SILVA, Veronica Rocha da. O bandeirismo não é apenas um tema do passado: bandeirantes, entradas e bandeiras na construção historiográfica no Curso de Bandeirologia (1946). 2018. Dissertação (Mestrado em História) – Programa de Pós-Graduação em História, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2018.

SILVEIRA, Pedro Telles da. Um lance de retórica: retórica e linguagem na construção do discurso histórico. Vitória: Editora Milfontes, 2020.

SOUZA, Laura de Mello e. Vícios, virtudes e sentimento regional: São Paulo, da lenda negra à lenda áurea. Revista de História, São Paulo, n. 142-143, p. 261-276, 2000.

ROIZ, Diogo da Silva. Prefácio: Sinfonia inacabada. In: HOLANDA, Sérgio Buarque de. Monções e Capítulos de expansão paulista. 4. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2014. p. 7-15.

TAUNAY, Afonso de Escragnolle. O bandeirismo e os primeiros caminhos do Brasil.

In: TAUNAY, Afonso de et al. Curso de Bandeirologia. São Paulo: Departamento Estadual de Informações, 1946. p. 5-28.

TAUNAY, Afonso de Escragnolle. Discurso de posse como sócio efetivo do IHGSP. RIHGSP, São Paulo, v. 17, 1912.

TAUNAY, Afonso de Escragnolle. Heurística paulista e brasileira. Anais do Museu Paulista, São Paulo, v. 4, 1931.

TAUNAY, Afonso de Escragnolle. História geral das bandeiras paulistas: escrita à vista de avultada documentação inédita dos arquivos brasileiros, espanhóis e portugueses. São Paulo: Tipografia Ideal; H. L. Canton & Imprensa Oficial do Estado, 1924-1950. 11 t.

TAUNAY, Afonso de Escragnolle. Os quatro primeiros lustros de vida do Instituto. RIHGSP, São Paulo, v. 19, 1914.

Downloads

Publicado

2021-08-31

Como Citar

ANHEZINI, K. Entre o imperativo do arquivo e a retórica bandeirante: a constituição de um saber científico para a invenção do paulista. História da Historiografia: International Journal of Theory and History of Historiography, Ouro Preto, v. 14, n. 36, p. 349–372, 2021. DOI: 10.15848/hh.v14i36.1708. Disponível em: https://historiadahistoriografia.com.br/revista/article/view/1708. Acesso em: 26 dez. 2024.

Edição

Seção

Dossiê: História como (In)disciplina